segunda-feira, 7 de maio de 2012

Base da Tradução do Novo Mundo


“TODA a carne é erva verde . . . Secou-se a erva verde, murchou a flor; mas, quanto à palavra de nosso Deus, ela durará por tempo indefinido.” Fiel à sua promessa, a Palavra de Jeová Deus tem durado por muitos e muitos séculos, desde que foi escrita, e isto apesar de todos os esforços dos inimigos de Deus de destruir a sua Palavra por meio de zombaria e perseguição!  Isa. 40:6, 8.

Jeová poderia ter feito um milagre contínuo para cuidar de que a sua Palavra ficasse preservada. Poderia ter preservado os manuscritos originais ou ter mantido suas cópias livres de erros de copistas e tradutores, mas não decidiu fazer nenhuma destas coisas. Antes, achou apropriado orientar a questão de tal modo que, com poucas exceções, nenhum erro significativo se introduzisse no texto.

Podemos ter confiança em que as cópias que hoje possuímos são cópias fiéis dos escritos originais. Isto se viu no caso do Rolo do Mar Morto de Isaías. As autoridades datam este rolo como tendo sido escrito antes de nossa Era Comum. Ele dá testemunho eloqüente do cuidado com que os copistas bíblicos fizeram o seu trabalho. Uma comparação dele com o texto massorético mais antigo, produzido mais de mil anos depois, mostra que se introduziram em mil anos de cópias apenas mudanças bem insignificantes!

Muitos amantes da Bíblia, que obtiveram um exemplar da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, perguntaram-se por que encontraram diferenças entre ela e a Bíblia com que estavam acostumados, por exemplo, a Versão Rei Jaime em inglês. Por quê? No que se refere às Escrituras Gregas Cristãs, as diferenças se devem primariamente a que a Tradução do Novo Mundo se baseia no texto grego de Westcott e Hort, ao passo que a Versão Rei Jaime se baseia no que é chamado de Textus Receptus ou “Texto Recebido”.

Conforme os estudantes da Bíblia sabem muito bem, as Escrituras Gregas Cristãs foram originalmente escritas no que se conhece como o grego koiné ou “comum”, durante o primeiro século de nossa Era Comum. Todavia, foi só no início do século dezesseis que se produziu um “Novo Testamento” grego para circulação geral. O impressor dele foi um homem chamado Froben, de Basiléia, na Suíça. Ele comissionou Erasmo, destacado erudito daquele tempo, a produzir às pressas um “Novo Testamento” grego. Isto Erasmo fez em dez meses, e ele foi publicado em 1516. Por causa da pressa com que trabalhou, seu texto estava cheio de erros. Muitos destes foram aos poucos eliminados nas edições adicionais publicadas em 1519, 1522, 1527 e 1535.

Erasmo escreveu no prefácio de seu texto: “Discordo veementemente daqueles [da Igreja de Roma] que não querem que pessoas particulares leiam as Escrituras Sagradas, nem que sejam traduzidas na língua vulgar”, quer dizer, na língua do povo comum. Embora nas suas edições também fizesse observações críticas sobre o clero católico? Erasmo nunca teve suficiente zelo ou coragem para dar ao povo comum da Europa o benefício da Palavra de Deus, por traduzi-la numa de suas próprias línguas.

O “TEXTO RECEBIDO”

O texto de Erasmo era uma sensação literária. Isto, junto com o seu preço razoável, resultou em ele se tornar o primeiro “best seller” bíblico. De fato, pode-se dizer que as suas edições realmente iniciaram algo, pois daí um editor após outro produziram as suas próprias edições. Entre estes se encontrava o parisiense Estéfano, o suíço Beza e o holandês Elzevir; nenhuma das edições deles, porém, divergia muito do texto de Erasmo, produzido por Froben. Lutero usou a edição de 1519, de Erasmo, para a sua própria tradução para o alemão. Entre as edições baseadas no texto de Erasmo encontrava-se a que se tornou Textus Receptus ou Texto Recebido, da Grã-Bretanha, e a base de muitas versões inglesas, inclusive a parte das Escrituras Gregas Cristãs da Versão Rei Jaime.

Quão bom era este Texto Recebido? Não há dúvida de que era a Palavra de Deus. Contudo, deixava muito a desejar quanto à exatidão, e havia mais de um bom motivo para isso. Em primeiro lugar, Erasmo só pôde consultar um punhado de manuscritos gregos. Ainda mais sério era que todos eles eram de origem recente. Por via de regra, quanto mais velho um manuscrito, tanto menos erros de cópia deve conter. Depois há também a questão da pressa com que Erasmo fez o seu trabalho. Ele mesmo admitiu que a sua edição era “mais apressada do que editada”.

Apesar destes aspectos negativos das edições de Erasmo, que se aplicam com força quase igual ao Texto Recebido, este texto permaneceu o padrão por mais de duzentos anos. Entre os primeiros a produzirem seu próprio texto encontrava-se o erudito alemão Griesbach, embora se diga que ele não se livrou inteiramente da influência do Texto Recebido.

O primeiro a fazer isso foi Lachmann, professor de antigas línguas clássicas da Universidade de Berlim. Conforme certa autoridade o expressa, Lachmann “foi o primeiro a fundar um texto inteiramente baseado na evidência antiga; e . . . contribuiu muito para quebrantar a reverência supersticiosa para com o textus receptus”. Após ele veio Tischendorf, erudito realmente notável, que descobriu o Manuscrito Sinaítico num mosteiro na península de Sinai. Enquanto Tischendorf se atarefava na Alemanha, Tregelles fez um trabalho muito bom na Inglaterra, produzindo um texto que J. B. Rotherham usou para as primeiras duas edições de sua Bíblia Enfatizada, em inglês.

WESTCOTT E HORT

Toda esta atividade de refinamento atingiu o auge nos trabalhos de dois eruditos bíblicos britânicos, B. F. Westcott e F. J. A. Hort. Iguais a Tischendorf e Tregelles, estes homens criam firmemente na inspiração divina das Escrituras. Isto, sem dúvida, ajuda a explicar tanto seu zelo como seu critério sadio.

Westcott e Hort trabalharam no seu texto grego por vinte e oito anos, de 1853 a 1881. Embora trabalhassem independentes um do outro, consultavam-se continuamente. “Reuniram em si mesmos”, conforme diz A. Souter, “tudo o que era mais valioso na obra de seus predecessores”. Tomavam em consideração todo fator concebível e toda probabilidade pertinente.

Sua obra tem sido classificada como “a contribuição mais importante para o criticismo científico do Novo Testamento já feita”. Rotherham a usou para as suas edições posteriores, falando de Westcott e Hort como “mestres consumados do criticismo textual”. Goodspeed diz no prefácio de Uma Tradução Americana (1923; em inglês):

“Acompanhei de perto o texto grego de Westcott e Hort, agora aceito em geral. Todo erudito conhece a sua superioridade aos textos recentes e defeituosos dos quais se produziram as primeiras traduções inglesas, desde Tyndale até a Versão Autorizada.” O texto de Westcott e Hort serviu também de base para a parte das Escrituras Gregas da Versão Normal Americana (1901) e da Versão Normal Revisada (1946), ambas em inglês.

Os tradutores da Versão Normal Revisada usaram também um texto de muita autoridade, ainda mais recente, o de Nestle, texto também consultado pela Comissão de Tradução da Bíblia do Novo Mundo. Esta comissão, conforme se pode ver nas suas notas ao pé das páginas, comparou muitos outros textos bons, tanto em grego como em outras línguas. Por exemplo, consultou dezenove versões hebraicas das Escrituras Gregas Cristãs, que serviram de base para se usar o nome divino Jeová em muitos lugares nas Escrituras Gregas Cristãs.

O texto grego de Westcott e Hort acha-se agora disponível a todos os amantes da Bíblia na Tradução Interlinear do Reino das Escrituras Gregas. Sendo uma das últimas produções da Comissão de Tradução da Bíblia do Novo Mundo, foi lançada em 1969 na Assembléia Internacional “Paz na Terra” das Testemunhas de Jeová.

Esta obra erudita tem em cada página uma coluna larga e outra estreita. Na coluna larga, à esquerda, aparece o texto de Westcott e Hort, e debaixo de cada palavra grega aparece seu equivalente em inglês, uma tradução palavra por palavra. Na coluna estreita à direita aparece um texto melhorado da edição inglesa de 1961 da Tradução do Novo Mundo. Esta Tradução Interlinear do Reino contém também muita informação valiosa na sua introdução e no seu apêndice, e a respeito da própria língua grega, nas suas guardas.

O que mencionamos aqui explica muitas das diferenças entre a Tradução do Novo Mundo e outras versões. As diferenças mais notáveis são coisas que aparecem nas versões mais antigas, mas que não são encontradas nas mais novas, ou que aparecem apenas em notas ao pé da página. Por que se dá isso? Porque a maioria dos erros dos copistas são acréscimos ao texto, em vez de omissões. Assim, os eruditos bíblicos concordam hoje que os últimos doze versículos do Evangelho de Marcos (16:9-20) e os primeiros onze versículos do capítulo oito do Evangelho de João não fazem parte dos escritos originais. O mesmo se dá com as palavras “no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e esses três são um. E três são os que testificam na terra”, encontradas em 1 João 5:7, 8, nas versões Almeida e Figueiredo, e em outras.

AS ESCRITURAS HEBRAICAS

As Escrituras Hebraicas foram produzidas por escreventes de Deus desde o tempo de Moisés até o tempo de Esdras. Hoje não se sabe de nenhum escrito original em existência; há apenas cópias de cópias. Todavia, desde o início se usou de muito cuidado na sua preservação, incluindo-se cópias autorizadas.

Visto que os judeus se tornaram um povo muito espalhado, aumentou a demanda de cópias das inspiradas Escrituras Hebraicas, a partir do tempo de sua volta de Babilônia. Tais cópias manuscritas continuavam a ser feitas especialmente até a invenção da imprensa com tipos móveis, no tempo de Gutenberg. Atualmente, em diversas bibliotecas do mundo, existem 1.700 cópias manuscritas de diversas partes das Escrituras Hebraicas. Até recentemente, não havia cópias, exceto alguns fragmentos, que fossem mais antigas do que o décimo século. Mas a partir do achado dos Rolos do Mar Morto, em 1947, surgiram rolos muito mais antigos das Escrituras Hebraicas. O mais valioso deles é o Rolo do Mar Morto de Isaías, o qual, conforme já se mencionou, é datado pelos peritos como tendo sido escrito antes de nossa Era Comum.

Os homens que copiavam estes manuscritos, do tempo de Esdras ao tempo de Jesus, eram os escribas ou soferins. Estes homens se sentiam às vezes compelidos a fazer mudanças no texto, quando pensavam que o texto dava a entender alguma indignidade para com Jeová Deus. Seus sucessores foram os massoretas, os “senhores da tradição”. Estes eram extremamente escrupulosos e não só se refreavam de mudar qualquer coisa, mas restabeleceram cuidadosamente as coisas mudadas pelos soferins, em especial restabeleceram o nome divino Jeová. O manuscrito massorético mais antigo e mais fidedigno disponível aos modernos eruditos bíblicos é o texto massorético de Ben Asher, de cerca de 930 E. C.

Este é o texto que um dos mais destacados eruditos hebraicos do século vinte, Rudolf Kittel, e seus associados e sucessores usaram na produção da terceira e das posteriores edições da Bíblia Hebraica. A 7.a, a 8.a e a 9.a edição (1951-1955) dela foram usadas pela Comissão de Tradução da Bíblia do Novo Mundo para produzir a sua versão das Escrituras Hebraicas. A comissão consultou também outros bons textos hebraicos, especialmente o do eminente erudito D. Ginsburg, seguindo seu texto como texto principal em diversos lugares.

A Comissão de Tradução da Bíblia do Novo Mundo usou também destacados textos traduzidos, anteriores, para fins de comparação. O mais importante destes é a Septuaginta ou Versão dos Setenta grega. Esta começou a ser produzida em 280 A. E. C., supostamente por setenta eruditos, o que lhe deu o nome. É a versão mais usada pelos escritores das Escrituras Gregas Cristãs, conforme se pode ver tanto nas citações diretas como nas indiretas que fizeram.

A comissão consultou também a principal versão latina, a Vulgata de Jerônimo. Ele a traduziu das línguas originais para a então língua comum do povo, motivo pelo qual foi chamada de Vulgata ou versão “vulgar”. Esta versão, publicada no princípio do quinto século E. C., é também muitas vezes mencionada nas notas ao pé das páginas da primeira edição e da de 1963, em inglês, da Tradução do Novo Mundo.

Também foram consultados e mencionados o Pentateuco Samaritano e os Targuns aramaicos. O Pentateuco Samaritano é na realidade mais uma transliteração do que uma tradução, quer dizer, as palavras hebraicas foram simplesmente transcritas em caracteres do alfabeto samaritano, tornando possível que os samaritanos as lessem, mas não necessariamente as entendessem. Foi produzido durante o quarto século A. E. C., embora as cópias existentes só remontem ao décimo século E. C. Os Targuns aramaicos foram as traduções mais antigas, ou mais corretamente, paráfrases dos livros da Bíblia. Mas só foram assentados por escrito no princípio da Era Comum, sendo até então transmitidos apenas oralmente.

A base erudita da tradução encontrada na Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, conforme assim se observou, dá confiança na exatidão da sua tradução. Dá-nos confiança adicional que os membros da Comissão de Tradução da Bíblia do Novo Mundo acreditam firmemente na inspiração divina da Bíblia, sabendo que ela é realmente a Palavra de Deus e que “a declaração de Jeová permanece para sempre”. — 1 Ped. 1:25.

Nota

É possível que tenham sido apenas cinco; no máximo oito. Estes, porém não consistiam nas Escrituras Gregas Cristãs completas mas, antes, em uma ou mais partes daquelas em que estas Escrituras foram em geral divididas para se fazerem manuscritos: (1) os Evangelhos, (2) Atos e as cartas gerais de Tiago até Judas, (3) as cartas de Paulo, (4) Revelação ou Apocalipse.

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