segunda-feira, 7 de maio de 2012


Como sumiram estes versículos?

O livro de Revelação ou Apocalipse adverte: “Se alguém tirar qualquer coisa das palavras do rolo desta profecia, Deus lhe tirará o seu quinhão das árvores da vida.” Sim, a eliminação duma parte verdadeira da Bíblia é assunto sério. (Rev. 22:19) Mas, foi isto o que aconteceu? Vejamos.

Alguns versículos faltavam na tradução da Bíblia usada por essa pessoa, mas qual era a versão? Poderia ter sido qualquer de uma série de versões recentes. Por exemplo, estes versículos não constam na versão da Comunidade de Taizé (uma edição ecumênica para católicos e protestantes; Edições Loyola), na católica do Pontifício Instituto Bíblico (com numeração rearranjada), na Tradução Brasileira, na Tradução do Novo Mundo usada pelas Testemunhas de Jeová e na católica Bíblia de Jerusalém, sem se falar nas versões em outros idiomas.

Sabe por que esses versículos foram omitidos? Talvez se pergunte: ‘Falta alguma coisa na minha Bíblia?’
Em suma, a resposta é: Não. Esses versículos realmente não pertencem à Bíblia, embora existam em muitas traduções mais antigas. Para alguns, talvez pareça chocante saber que certas palavras, frases e até versículos inteiros, que constam em Bíblias amplamente usadas, não são autênticos. De modo que cabe alguma explicação.

Desde o começo, asseguramos-lhe que há abundante evidência mostrando que o texto da Bíblia é fidedigno. Por exemplo, é muito mais fidedigno e exato do que os escritos aceitos de Tácito, Tucídides e Heródoto.

A evidência consiste em muitos milhares de antigos manuscritos gregos, que podem ser verificados para provar que o texto básico de sua Bíblia é precisamente assim como foi originalmente escrito. Os mais antigos destes manuscritos também oferecem uma razão sólida para a omissão de certas palavras, expressões e versículos nas traduções mais recentes. É muito interessante examinar esta razão.

A TRANSCRIÇÃO DOS MANUSCRITOS

Conforme talvez saiba, os originais dos livros do “Novo Testamento” (as Escrituras Gregas Cristãs) não estão hoje disponíveis para serem usados pelos tradutores. Ninguém ainda descobriu um livro bíblico como que “autografado” pelos apóstolos Paulo e João, ou por outros. Contudo, é evidente que pouco depois da escrita dos originais, começaram a fazer-se transcrições deles para uso pelos primitivos cristãos.

Os copistas, em geral, tomavam extremo cuidado, para certificar-se de que sua obra transcrevesse com exatidão os originais. Muitos revisores, hoje, exercem cuidado similar. Mas, é provável que já tenha visto nos atuais jornais e livros a ocorrência de erros tipográficos, tais como a grafia errônea de uma palavra ou a omissão ou repetição duma linha. Se tais pequenos erros de impressão ocorrem apesar do progresso técnico atual, pode dar-se conta de que devem ter ocorrido quando livros inteiros da Bíblia foram transcritos à mão. As transcrições posteriores, mais afastadas dos originais, tendem a ter mais erros.

Veja como isso pode ter acontecido. Um copista, bem familiarizado com o Evangelho de Mateus, talvez, ao copiar o Evangelho de Marcos ou Lucas, usasse a fraseologia de Mateus que tão bem conhecia. Ou ele pode ter observado que uma sentença usada por Mateus não constava nas narrativas paralelas de Marcos ou de Lucas. De modo que talvez acrescentasse a sentença na margem. Um copista posterior, porém, talvez incluísse a sentença no texto principal de Marcos ou de Lucas, achando que deve ter estado originalmente ali, visto que apresentava maior concordância entre as narrativas. Por exemplo, no relato de Lucas, sobre a Oração-modelo, alguns manuscritos acrescentam: “Seja feita a tua vontade, como no céu, assim também na terra.” Contudo, o peso da evidência sugere que esta é uma intercalação tirada do relato de Mateus, omitida em Lucas 11:2 nas traduções modernas da Bíblia. (Mat. 6:10) Conforme pode ver, tais harmonizações feitas por amanuenses de motivação sincera tenderam a aumentar a matéria.

Agora, fixemos nossa atenção no século 16, pouco antes de se fazerem algumas das mais conhecidas traduções. A invenção da imprensa com tipo móvel permitiu a produção de livros em quantidade e mais baratos, e isso estimulou o interesse na Bíblia. Em vez de terem as Escrituras apenas nas traduções latinas, por muito tempo usadas pela Igreja Romana, os eruditos começaram a clamar por transcrições em grego, a língua em que o “Novo Testamento” foi escrito. Em 1515, um impressor suíço, achando que era uma ótima oportunidade comercial, entrou em contato com Desidério Erasmo, famoso erudito holandês, pedindo-lhe que apressasse uma cópia do “Novo Testamento” em grego para ser impresso.

O Guia Gráfico Para as Versões Modernas do Novo Testamento, de Herbert Dennett, em inglês, explica o que aconteceu:

“A tarefa, porém, foi empreendida a curto prazo e executada às pressas. Erasmo usou apenas meia dúzia de manuscritos, dos quais apenas um era moderadamente antigo e fidedigno. Nenhum de seus manuscritos continha todo o Novo Testamento, e alguns versículos, que não constavam em nenhum deles, foram na realidade retraduzidos por Erasmo do latim [de novo] para o grego. Este texto publicado foi mais tarde revisado, com a ajuda de mais alguns manuscritos, mas o resultado afetou pouco esta obra.” — P. 119.

Agora, por que devia você estar especialmente interessado neste aparente aparte da história erudita? Que diferença faz para nós, hoje, que o texto de Erasmo, de 1516, baseava-se ‘principalmente em dois manuscritos inferiores do século doze’, conforme o expressou recentemente um professor?

O motivo de isso ser significativo é que o texto grego de Erasmo, basicamente, levou de modo direto ao que veio a ser conhecido como o “texto recebido” (textus receptus). À base deste texto fizeram-se muitas traduções, inclusive, em parte, a versão original de João Ferreira de Almeida. Mas, o Sir Frederic Kenyon fez a seguinte observação sobre o “texto recebido”:

“O resultado é que o texto aceito nos séculos dezesseis e dezessete, ao qual nos apegamos por relutância natural de mudar as palavras que aprendemos ser as da Palavra de Deus, está, na realidade, cheio de inexatidões, muitas das quais podem ser corrigidas com absoluta certeza, em vista da informação vastamente mais ampla que hoje temos à disposição.” — Our Bible and the Ancient Manuscripts, p. 162.

REFINAMENTO DO TEXTO

No século dezesseis, Erasmo possuía apenas alguns manuscritos gregos posteriores com que trabalhar. Mas, isto não se deu nos séculos 19 e 20. Durante este período, foram descobertos milhares de antigos manuscritos e fragmentos gregos. Até 1973, o total de manuscritos gregos conhecidos já ascendera a 5.338, surgindo ainda mais desde então. O número de principais manuscritos bíblicos em grego, tais como o Códice Sinaítico e o Códice Vaticano, remonta ao quarto século. Alguns são bem mais antigos. Por exemplo, um fragmento do Evangelho de João remonta a cerca de 125 E. C.

Ao passo que o filete de recém-descobertos manuscritos gregos, antigos, se tornou virtualmente uma enxurrada, os eruditos puderam fazer a comparação crítica deles. Este criticismo textual não deve ser confundido com o “alto criticismo”, que tende a diminuir o respeito pela Bíblia como a Palavra de Deus. O criticismo textual envolve uma cuidadosa comparação de todos os manuscritos conhecidos da Bíblia, a fim de se determinar o verdadeiro texto original, eliminando-se os acréscimos.

Para ilustrar como isso funciona, imagine o que aconteceria se você pedisse a 200 pessoas fazerem uma cópia manuscrita dum texto escrito à mão. A maioria delas faria erros, alguns deles menores e outros mais significativos. Mas, não fariam todos os mesmíssimos erros. Então, se alguém bem atento tomasse todas as 200 transcrições e as comparasse entre si, poderia descobrir os erros. Um erro se destacaria em uma ou duas, porque não apareceria nas outras 198, que rezariam de modo correto. Assim, com esforço, ele poderia produzir um texto exato do documento original, mesmo que nunca o tivesse visto.

Embora outros tivessem anteriormente trabalhado em tal refinamento do texto do “Novo Testamento”, em fins do século 19, dois eruditos de Cambridge, B. F. Westcott e F. J. A. Hort, produziram um texto refinado que tem tido ampla aceitação. Foi publicado em 1881; contudo, certo professor disse recentemente:

“Westcott e Hort fizeram seu trabalho de modo tão cabal e com perícia tão extraordinária, que o trabalho textual, desde então tem sido ou em reação ou em complementação do deles. . . . O que é significativo é que mesmo os que tendem a discordar do [método] de Westcott e Hort publicaram textos gregos que diferem muito pouco do deles.” — Christianity Today, 22 de junho de 1973, p. 8.

Este texto refinado por Westcott e Hort tem sido usado como texto básico para várias traduções mais recentes, inclusive pela Tradução do Novo Mundo.

ALGUNS VERSÍCULOS “FALTANTES”

Com esta informação por base, estamos em melhor situação para examinar alguns dos versículos que, à primeira vista, parecem estar faltando em traduções mais recentes da Bíblia.

Já mencionamos que um amanuense talvez acrescentasse ao relato que copiava uma sentença ou um versículo tirado de outra parte. Pode ver isso prontamente em Marcos 9:43-48. Em muitas das versões mais novas, os versículos 44 e 46 são omitidos, acrescentando-se às vezes um travessão para indicar a omissão, como se faz na Tradução do Novo Mundo. O texto destes dois versículos reza “onde o seu guzano não morre e o fogo não se extingue”, exatamente como o versículo 48. Embora alguns manuscritos gregos contenham esses versículos 44 e 46, diversos manuscritos mais antigos e de maior autoridade não os contêm. A evidência sugere que um ou mais amanuenses apenas repetiram o versículo 48, talvez até mesmo por engano. Portanto, omitindo-se numa Bíblia moderna os versículos 44 e 46, de modo algum envolve omitir parte da Palavra de Deus, porque a mesma sentença consta no versículo 48 do mesmo relato. Mas, o que se dá com a omissão dos dois versículos duvidosos? O relato fica refinado e é apresentado assim como Marcos foi inspirado a escrevê-lo.

Em outros casos, os “versículos faltantes” evidentemente procederam de outros livros bíblicos. Algumas edições da Bíblia ajudam o leitor a ver isso, porque imprimem numa nota ao pé da página o texto do versículo omitido, assim como foi feito em certas edições de tipo grande, em inglês, da Tradução do Novo Mundo. Se não poder recorrer a tal ajuda, poderá comparar sua Bíblia moderna com a edição antiga da versão de João Ferreira de Almeida ou outra similar, mais antiga. Pela comparação, poderá ver por si mesmo que aquilo que foi omitido talvez seja apenas um versículo repetido de outro lugar ou livro. Por exemplo, veja Romanos 16:24 e o compare com o versículo 20 e as passagens concludentes em quase cada livro escrito pelo apóstolo Paulo. Verá que, em Romanos 16:24, algum copista evidentemente acrescentou uma expressão concludente, assim como Paulo incluiu em quase todos os seus livros.

Talvez a passagem mais controvertida, que foi tirada de traduções mais recentes, que são fiéis à evidência dos manuscritos antigos, seja parte de 1 João 5:7. No passado, recorria-se muitas vezes a este texto em apoio da doutrina antibíblica da Trindade. Sobre esta passagem espúria, diz a católica Bíblia de Jerusalém, (N.T.):

“O texto dos vv. 7-8 [no céu: o Pai, o Verbo e o Espírito Santo, e esses três são um só; e há três que testemunham sobre a terra] está . . . ausente nos antigos mss. gregos, nas antigas versões e nos melhores mss. da Vulg., e que parece ser uma glosa marginal introduzida posteriormente no texto.”

Visto que este versículo procede dum período muito posterior ao tempo da escrita da Bíblia e tem natureza tão claramente espúria, muitas traduções modernas nem mesmo o tratam assim como os outros versículos omitidos.

Finalmente, podemos mencionar alguns trechos mais compridos da Bíblia, onde a evidência dos manuscritos não parece conclusiva aos eruditos. Um deles é o fim do livro de Marcos, a partir do versículo 9. Outro é João 7:53 a 8:11, sobre a mulher apanhada em adultério, que veio a Jesus. Esta narrativa apareceu primeiro em algumas versões do Latim Antigo, e, em manuscritos gregos, posteriores, existe em outros três lugares nos Evangelhos. Em muitas traduções, estas duas partes encontram-se incluídas mas separadas do texto principal, tal como estando entre colchetes ou em tipo menor.

CONFIANÇA NA BÍBLIA

Esta consideração de alguns versículos isolados, que claramente não fazem parte da Bíblia inspirada, não deve criar dúvida sobre a autenticidade da Palavra de Deus. Em vez de minar a confiança nas Escrituras, deve servir para sublinhar o fato de que Deus preservou a sua Palavra num estado notavelmente puro.
Após a sua cabal investigação, o erudito F. J. A. Hort chegou à seguinte conclusão:

“Portanto, não é supérfluo dizer explicitamente que o grande volume de palavras do Novo Testamento se destaca acima de todos os processos discriminatórios do criticismo, porque estão livres de variação, e precisam somente ser transcritas. . . . O campo inteiro de variações entre versões, já admitidas ou que venham a ser admitidas em qualquer texto impresso, é relativamente pequeno; e grande parte dele inclui apenas diferenças entre as primitivas edições não-críticas e os textos formados dentro do último meio século, com a ajuda de inestimável evidência documentária trazida à luz nos tempos recentes.”

Ele acrescentou:

“Na variedade e plenitude da evidência em que se baseia, o texto do Novo Testamento se destaca como absoluta e inacessivelmente único entre os antigos escritos em prosa.”

Sir Frederic Kenyon estava de pleno acordo, dizendo:

“É tranqüilizador encontrar, no fim, que o resultado geral de todas essas descobertas e de todo esse estudo é fortalecer a prova da autenticidade das Escrituras e nossa convicção de que temos nas mãos, em substancial integridade, a verdadeira Palavra de Deus.”

Notas
Compare Mat. 18:11 com Luc. 19:10; Mat. 23:14 com Mar. 12:40 e Luc. 20:47; Mar. 7:16 com Mar. 4:9, 23 e Luc. 8:8; Mar. 11:26 com Mat. 6:14; Mar. 15:28 com Luc. 22:37; Luc. 17:36 com Mat. 24:40; Luc. 23:17 com Mat. 27:15 e Mar. 15:6.

1 Cor. 16:23; 2 Cor. 13:14; Fil. 4:23; 1 Tes. 5:28; 2 Tes. 3:18.

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